quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Conflito de identidades

O Brasil é um país de contrastes; seu relevo, clima, fauna, flora e cultura são de uma riqueza e variedade raras. Não poderia ser diferente na língua, já que essa é o maior retrato da nossa identidade cultural. Mas tamanha variação gera conflitos, e de tais brota a discussão acerca da necessidade de ensinar a variante coloquial da linguagem nas escolas, necessidade que inexiste.
A norma culta da língua é a única a ser transmitida, enfaticamente. Não há utilidade em ministrar aulas sobre algo que todos sabem. Seria desperdício total de tempo, visto que todo brasileiro conhece, naturalmente, a linguagem coloquial, e a ouve e exercita a todo momento - o que não ocorre com a norma padrão.
A variante culta da língua portuguesa é muito mais complexa, repleta de regras, alem de ser aquela requisitada nos meios acadêmico e profissional - sendo, portanto, a que merece destaque, ao menos nas instituições de ensino. Como afirmou o escritor e linguista Marcos Bagno, "cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem".
Vale ressaltar, entretanto, que não ensinar a forma coloquial da língua não é o mesmo que desmerecê-la, apenas não é prioridade. Não se pode ser radical, é preciso ser aristotélico ("a virtude é a justa medida entre a falta e o excesso"), estabelecendo um meio termo, não sendo nem parnasiano - valorizando apenas a erudição - nem modernista - dizendo que a escrita e todo o resto devem ser regidas pela fala.
Faz-se necessário conscientizar os desinformados que não há erro em dizer "isso é pra mim fazer", já que não há erro na fala - para amenizar o preconceito linguístico. No entanto, acima disso, é preciso conceder a todos um bom domínio da norma culta, para que - quando necessário - qualquer um saiba bem utilizá-la, mostrando sua "brasilidade" ao conhecer profundamente a sua língua, puro retrato de sua identidade.

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