quarta-feira, 30 de março de 2011

Infância degradada.

O Brasil é um país em pleno desenvolvimento, integrante do grupo de países emergentes que mais cresce e com maior influência na política externa, tendo apresentado um crescimento no PIB de 7,5% em 2010, ficando com a quinta posição em maior evolução econômica do G20. Entretanto, mesmo com um desenvolvimento tão elevado, o país ainda apresenta traços do Terceiro Mundo, como o trabalho infantil. Uma triste realidade de um país de tão marcantes contrastes.

O número de crianças e jovens brasileiros com idade entre cinco e dezessete anos que trabalham é absurda, beirando o patamar dos seis milhões; uma estimativa inaceitável e um entrave à evolução da nação. Isso porque as crianças que trabalham em vez de estudar, futuramente serão adultos mal preparados para o mercado de trabalho, vivendo com baixa renda e tendo de colocar seus filhos para trabalhar e auxiliar nas despesas domésticas, alimentando esse ciclo miserável.

Entre os menores de idade, só se pode trabalhar a partir dos 14 anos e, inicialmente, apenas na condição de aprendizes. O trabalho infanto-juvenil, além de ilegal e mal remunerado, é degradante e extremamente lesivo aos joviais trabalhadores, os quais têm sua infância consumida nos canaviais, sisais, carvoarias e fazendas, e refletem na sociedade e economia, na qual o único beneficiado é o empregador explorador.

O trabalho infantil não é conseqüência da pobreza, mas financiador dessa. Faz-se necessária uma série de mudanças que se dediquem tanto a levar os jovens à escola, como a reduzir a miséria; um amplo programa de fiscalização que puna severamente os empregadores de menores e até os pais, por possibilitarem o abandono dos estudos por parte de seus filhos.

Nesse contexto, felizmente – e no qual difere a muitas questões –, o Brasil já tem uma ferramenta útil para abrandar tal situação e que só precisa ser lapidada: o Programa Bolsa Família. Por mais críticas que receba, o programa é o mais eficiente do país em termos de redução da pobreza e que contribui efetivamente para aprimorar o nível educacional entre as classes menos abastadas; mas deve ser ampliado e principalmente, deve agir com maior rigor, de forma a beneficiar quem realmente necessita, além de passar a exigir freqüência regular e desempenho acima da média dos jovens das famílias assistidas. Assim aqueles lesados de seus direitos passarão a ter acesso a uma melhor qualidade de vida, sendo ressarcidos de sua dignidade.

Infância degradada.

O Brasil é um país em pleno desenvolvimento, integrante do grupo de países emergentes que mais cresce e com maior influência na política externa, tendo apresentado um crescimento no PIB de 7,5% em 2010, ficando com a quinta posição em maior evolução econômica do G20. Entretanto, mesmo com um desenvolvimento tão elevado, o país ainda apresenta traços do Terceiro Mundo, como o trabalho infantil. Uma triste realidade de um país de tão marcantes contrastes.

O número de crianças e jovens brasileiros com idade entre cinco e dezessete anos que trabalham é absurda, beirando o patamar dos seis milhões; uma estimativa inaceitável e um entrave à evolução da nação. Isso porque as crianças que trabalham em vez de estudar, futuramente serão adultos mal preparados para o mercado de trabalho, vivendo com baixa renda e tendo de colocar seus filhos para trabalhar e auxiliar nas despesas domésticas, alimentando esse ciclo miserável.

Entre os menores de idade, só se pode trabalhar a partir dos 14 anos e, inicialmente, apenas na condição de aprendizes. O trabalho infanto-juvenil, além de ilegal e mal remunerado, é degradante e extremamente lesivo aos joviais trabalhadores, os quais têm sua infância consumida nos canaviais, sisais, carvoarias e fazendas, e refletem na sociedade e economia, na qual o único beneficiado é o empregador explorador.

O trabalho infantil não é conseqüência da pobreza, mas financiador dessa. Faz-se necessária uma série de mudanças que se dediquem tanto a levar os jovens à escola, como a reduzir a miséria; um amplo programa de fiscalização que puna severamente os empregadores de menores e até os pais, por possibilitarem o abandono dos estudos por parte de seus filhos.

Nesse contexto, felizmente – e no qual difere a muitas questões –, o Brasil já tem uma ferramenta útil para abrandar tal situação e que só precisa ser lapidada: o Programa Bolsa Família. Por mais críticas que receba, o programa é o mais eficiente do país em termos de redução da pobreza e que contribui efetivamente para aprimorar o nível educacional entre as classes menos abastadas; mas deve ser ampliado e principalmente, deve agir com maior rigor, de forma a beneficiar quem realmente necessita, além de passar a exigir freqüência regular e desempenho acima da média dos jovens das famílias assistidas. Assim aqueles lesados de seus direitos passarão a ter acesso a uma melhor qualidade de vida, sendo ressarcidos de sua dignidade.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo

Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo

Fonte:
AZEVEDO, Álvares de.  Noite na taverna.  3.ed.  Rio de Janeiro : Francisco Alves, 1988.

Texto proveniente de:
A Literutra Brasileira – O seu amigo na Internet.
Permitido o uso apenas para fins educacionais.
Qualquer dúvida entre em contato conosco pelo email dariognjr@bol.com.br.
http://www.aliteratura.kit.net

Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima sejam mantidas.


Noite na Taverna
Álvares de Azevedo


MACÁRIO

Onde me levas?

SATAN

A uma orgia. Vais ler uma página da vida, cheia de sangue e de vinho—que importa?

MACÁRIO

Eu vejo‑os. É uma sala fumacenta. A roda da mesa estão sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem‑se no chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas, umas lívidas, outras vermelhas Que noite!
NOITE NA TAVERNA

How now, Horatio? you tremble, and look pale. Is not this something more than fantasy? What think you on's?

Hamlet. Ato I

JOB STERN

UMA NOITE DO SÉCULO

.

Bebamos! nem um canto de saudade! Morrem na embriaguez da vida as cores! Que importam sonhos, ilusões desfeitas? Fenecem como as flores!

José Bonifácio

— Silêncio! moços!! acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia??

—Cala‑te, Johann! enquanto as mulheres dormem e Arnold—o loiro—cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que musica mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e a lua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada ao reflexo das tachas?

—És um louco, Bertram! não e a lua que lá vai macilenta: e o relâmpago que passe e ri de escárnio as agonies do povo que morre, aos soluços que seguem as mortalhas do cólera!

—O cólera! e que importa? Não há por ora vida bastante nas veias do homem? não borbulha a febre ainda as ondas do vinho? não reluz em todo o seu fogo a lâmpada da vida na lanterna do crânio?

—Vinho! vinho! Não vês que as taças estão vazias bebemos o vácuo, como um sonâmbulo?

—E o Fichtismo na embriguez! Espiritualista, bebe a imaterialidade da embriaguez!

—Oh! vazio meu copo esta vazio! Olá taverneira, não vês que as garrafas estão esgotadas? Não sabes, desgraçada, que os lábios da garrafa são como os da mulher: só valem beijos enquanto o fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa de lava?

—O vinho acabou‑se nos copos, Bertram, mas o fumo ondula ainda nos cachimbos! Após os vapores do vinho os vapores da fumaça! Senhores, em nome de sodas as nossas reminiscências, de todos os nossos sonhos que mentiram, de sodas as nossas esperanças que desbotaram, uma ultima saúde! A taverneira ai nos trouxe mais vinho: uma saúde! O fumo e a imagem do idealismo, e o tran­sunto de tudo quanto ha mais vaporoso naquele espiri­tualismo que nos fala da imortalidade da alma! e pois, ao fumo das Antilhas, a imortalidade da alma!

—Bravo! bravo!

Um urrah tríplice respondeu ao moco meio ébrio.

Um conviva se ergueu entre a vozeria: contrasta­vam‑lhe com as faces de moco as rugas da fronte e a rouxidão dos lábios convulsos. Por entre os cabelos pra­teava‑se‑lhe o reflexo das luzes do festim. Falou:

—Calai‑vos, malditos! a imortalidade da alma? po­bres doidos! e porque a alma e bela, porque não conce­beis que esse ideal posse tornar‑se em loco e podridão, como as faces belas da virgem morta, não podeis crer que ele morra? Doidos! nunca velada levastes porventura uma noite a cabeceira de um cadáver? E então não du­vidastes que ele não era morto, que aquele peito e aquela fronte iam palpitar de novo, aquelas pálpebras iam abrires, que era apenas o ópio do sono que emudecia aquele homem? Imortalidade da alma! e por que também não so­nhar a das flores, a das brisas, a dos perfumes? Oh! não mil vezes! a alma não e, como a lua, sempre moca, nua e bela em sue virgindade eterna! a vida não e mais que a reunião ao acaso das moléculas atraídas: o que era um corpo de mulher vai porventura transformar-se num cipreste ou numa nuvem de miasmas; o que era um corpo do verme vai alvejar‑se no cálice da flor ou na fronte da
criança mais loira e bela. Como Schiller o disse, o átomo da inteligência de Platão foi talvez pare o coração de um ser impuro. Pôr isso eu vo‑lo direi: se entendeis a imortalidade pela metempsicose, bem! talvez eu creia um pouco:—pelo Platonismo, não!

—Solfieri! es um insensato! o materialismo e árido como o deserto, e escuro como um túmulo! A nos fron­tes queimadas pelo normaço do sol da vida a nos sobre cuja cabeça a velhice regelou os cabelos, essas crianças frias! A nós os sonhos do espiritualismo!

—Archibald! deveras, que e um sonho tudo isso! No outro tempo o sonho da minha cabeceira era o es­pirito puro ajoelhado no seu manto argênteo, num ocea­no de aromas e luzes! Ilusões! a realidade e a febre do libertino, a taça na mão, a lascívia nos lábios e a mulher seminua, tremula e palpitante sobre os joelhos.

—Blasfêmia—e não crês em mais nada: teu ce­ticismo derribou sodas as estatuas do teu templo, mesmo a de Deus?

—Deus! crer em Deus! sim como o grito intimo o revela nas horas frias do medo—nas horas em que se tirita de susto e que a morte parece roçar úmida por nos! Na jangada do naufrago, no cadafalso, no deserto —sempre banhado do suor frio—do terror e que vem a crença em Deus! —Crer nele como a utopia do bem absoluto, o sol da luz e do amor, muito bem! Mas se en­tendeis por ele os ídolos que os homens ergueram banha­dos de sangue, e o fanatismo beija em sua inanimação de mármore de há cinco mil anos! não credo nele!

—E os livros santos?

—Miséria! quando me vierdes falar em poesia eu vos direi: ai ha folhas inspiradas pela natureza ardente daquela terra como nem Homero as sonhou—como a humanidade inteira ajoelhada sobre os túmulos do pas­sado nunca mais lembrara! Mas quando me falarem em verdades religiosas, em visões santas, nos desvarios da­quele povo estúpido—eu vos direi—miséria! miséria! três vezes miséria! Tudo aquilo e falso— mentiram como as miragens do deserto!

—Estas ébrio, Johann! O ateísmo e a insânia como o idealismo místico de Schelling, o panteísmo de Spinoza o judeu, e o crente de Malebranche nos seus sonhos da visão em Deus. A verdadeira filosofia e o epicurismo. Hume bem o disse: o fim do homem e o prazer. Dai vede que e o elemento sensível quem domina. E pois ergamo‑nos, nos que amanhecemos nas noites desbotadas de estudo insano, e vimos que a ciência e falsa e esquiva, que ela mente e embriaga como um beijo de mulher.

—Bem! muito bem! e um toast de respeito!

—Quero que todos se levantem, e com a cabeça descoberta digam‑no: Ao Deus Pan da natureza, aquele que a antiguidade chamou Baeo o filho das coxas de um deus e do amor de uma mulher, e que nos chamamos me­lhor pelo seu nome—o vinho.

—Ao vinho! ao vinho!

Os copos cairam vazios na mesa.

—Agora ouvi‑me, senhores! entre uma saúde e uma baforada de fumaça, quando as cabeças queimam e os cotovelos se estendem na toalha molhada de vinho, como os braços do carniceiro no cepo gotejaste, o que nos cabe e uma historia sanguinolenta, um daqueles contos fantás­ticos—como Hoffmann os delirava ao clarão dourado do Johannisberg!

—Uma historia medonha, não Archibald?—falou um moco pálido que a esse reclamo erguera a cabeça amarelenta. Pois bem, dir‑vos‑ei uma historia. Mas quanto a essa, podeis tremer a gosto, podeis suar a frio da fronte grossas bagas de terror. Não e um conto, e uma lembrança do passado.

—Solfieri! Solfieri! ai vens com teus sonhos!

—Conta!

Solfieri falou: os mais fizeram silêncio
II

SOLFIERI

Yet one kiss on your pale clay


And those lips once so warm beart! my bears! my bears!

BYRON—Cain

Sabeis‑lo. Roma e a cidade do fanatismo e da perdição: na
alcove do sacerdote dorme a gosto a amásia,
no leito da vendida se pendura o Crucifixo lívido. É um
requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio a
convulsão do amor, o beijo lascivo a embriaguez da crença!
Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela
no verão pôr aquele céu morno, o fresco das águas se
exalava como um suspiro do leito do Tibre. A noite ia
bela. Eu passeava a sós pela ponte de As luzes se apa­garam uma por uma nos palácios, as ruas se fazias ermas,
e a lua de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Uma
sombra de mulher apareceu numa janela solitária e es­
cura. Era uma forma branca.—A face daquela mulher
era como a de uma estátua pálida a lua. Pelas faces dela,
como gotas de uma taça caída,, rolavam fios de lágrimas.

Eu me encostei a aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela e daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento a noite nos cemitérios cantando a nênia das flores murchas da morte.

Depois o canto calou‑se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu a ninguém—saiu. Eu segui‑a.

A noite ia cada vez mais alta: a lua sumira‑se no céu, e a chuva caía as gotas pesadas: apenas eu sentia nas faces caírem‑me grossas lágrimas de água, como sobre um túmulo prantos de órfão..

Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas: enfim ela parou: estávamos num campo.

Aqui, ali, além eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou‑se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite.

Não sei se adormeci: sei apenas que quando amanheceu achei‑me a sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não fora uma ilusão—as urzes, as cicutas do campo santo estavam quebradas junto a uma cruz.

O frio da noite, aquele sono dormido a chuva, causaram‑me uma febre. No meu delírio passava e repassava aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços e todo aquele devaneio se perdia num canto suavíssimo...

Um ano depois voltei a Roma. Nos beijos das mulheres nada me saciava: no sono da saciedade me vinha aquela visão.
       
        Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no leito dela a condessa Barbara. Dei um último olhar áquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia volutuosa do amor. —Saí.. —Não sei se a noite era límpida ou negra—sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: nos lábios daquela criatura eu bebera ate a última gota o vinho do deleite.

Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri‑o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertados... Era uma defunta! ... e aqueles traços todos me lembraram uma idéia perdida. . —Era o anjo do cemitério? Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo.

Sabeis a historia de Maria Stuart degolada e o algoz, "do cadáver sem cabeça e o homem sem coração" como a conta Brantôme?Foi uma idéia singular a que eu tive. Tomei‑a no colo. Preguei‑lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim: rasguei‑lhe o sudário, despi‑lhe o véu e a capela como o noivo as despe a noiva. Era uma forma puríssima.. Meus sonhos nunca me tinham evocado uma estatua tão perfeita. Era mesmo uma estátua: tão branca era ela. A luz dos tocheiros dava‑lhe aquela palidez de âmbar que lustra os mármores antigos. O gozo foi fervoroso—cevei em perdição aquela vigília. A madrugada passava já froixa nas janelas. Àquele calor de meu peito, a febre de meus lábios, a convulsão de meu amor, a donzela pálida parecia reanimar‑se. Súbito abriu os olhos empanados. —Luz sombria alumiou‑os como a de uma estrela entre névoa—, apertou‑me em seus braços, um suspiro ondeou‑lhe nos beiços azulados. Não era já a  um desmaio. No aperto daquele abraço havia contudo alguma coisa de horrível. O leito de lájea onde eu passara uma hora de embriaguez me resfriava. Pude a custo soltar‑me daquele aperto do peito dela. Nesse instante ela acordou…

Nunca ouvistes falar da catalepsia? E um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado em que sentem‑se os membros tolhidos, e as faces banhadas de lágrimas alheias sem poder revelar a vida!

A moça revivia a pouco e pouco. Ao acordar desmaiara. Embucei‑me na capa e tomei‑a nos braços coberta com seu sudário como uma criança. Ao aproximar‑me da porta topei num corpo; abaixei‑me—olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja que aí dormira de ébrio, esquecido de fechar a porta .

Saí.—Ao passar a praça encontrei uma patrulha —Que levas aí?

A noite era muito alta—talvez me cressem um ladrão.

—E minha mulher que vai desmaiada

—Uma mulher! Mas essa roupa branca e longa? Serás acaso roubador de cadáveres?

Um guarda aproximou‑se. Tocou‑lhe a fronte—era fria.

—E uma defunta

Cheguei meus lábios aos dela. Senti um bafejo morno.—Era a vida ainda.

—Vede, disse eu.

O guarda chegou‑lhe os lábios: os beiços ásperos roçaram pelos da moça. Se eu sentisse o estalar de um beijo. . o punhal já estava nu em minhas mãos frias

—Boa noite, moço: podes seguir, disse ele.

Caminhei.—Estava cansado. Custava a carregar o meu fardo: e eu sentia que a moça ia despertar. Temeroso de que ouvissem‑na gritar e acudissem, corri com mais esforço. .

Quando eu passei a porta ela acordou. O primeiro som que lhe saiu da boca foi um grito de medo

Mal eu fechara a porta, bateram nela. Era um bando de libertinos meus companheiros que voltavam da orgia. Reclamaram que abrisse.

Fechei a moça no meu quarto—e abri.

Meia hora depois eu os deixava na sala bebendo ainda.

A turvação da embriaguez fez que não notassem minha. ausência.

Quando entrei no quarto da moça vi‑a erguida. Ria de um rir convulso como a insânia,, e frio como a folha de uma espada. Trespassava de dor o ouvi‑la.

Dois dias e duas noites levou ela de febre assim Não houve como sanar‑lhe aquele delírio, nem o rir do frenesi. Morreu depois de duas noites e dois dias de delírio.

A noite sai—fui ter com um estatuário que trabalhava perfeitamente em cera—e paguei‑lhe uma estátua dessa virgem.

Quando o escultor saiu, levantei os tijolos de mármore do meu quarto, e com as mãos cavei aí um túmulo.—Tomei‑a então pela última vez nos braços, apertei‑a a meu peito muda e fria, beijei‑a e cobri‑a adormecida do sono eterno com o lençol de seu leito.—Fechei‑a no seu túmulo e estendi meu leito sobre ele.

Um ano—noite a noite—dormi sobre as lajes que a cobriam Um dia o estatuário me trouxe a sua obra. —Paguei‑lha e paguei o segredo

Não te lembras, Bertram, de uma forma branca de mulher que entreviste pelo véu do meu cortinado? Não te lembras que eu te respondi que era uma virgem que dormia?

—E quem era essa mulher, Solfieri?

—Quem era? seu nome?

—Quem se importa com uma palavra quando sente que o vinho lhe queima assaz os lábios? quem pergunta o nome da prostituta com quem dormia e que sentiu morrer a seus beijos, quando nem ha dele mister por escrever‑lho na lousa?

Solfieri encheu uma taça—Bebeu‑a.—Ia erguerse da mesa quando um dos convivas tomou‑o pelo braço.

—Solfieri, não e um conto isso tudo?

—Pelo inferno que não! por meu pai que era conde e bandido, por minha mãe que era a bela Messalina das ruas—pela perdição que não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés na sua cova de terra —eu vô‑lo juro—guardei‑lhe como amuleto a capela de defunta.—Ei‑la!

Abriu a camisa, e viram‑lhe ao pescoço uma grinalda de flores mirradas.

—Vede‑la murcha e seca como o crânio dela!

Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo

Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo

Fonte:
AZEVEDO, Álvares de.  Noite na taverna.  3.ed.  Rio de Janeiro : Francisco Alves, 1988.

Texto proveniente de:
A Literutra Brasileira – O seu amigo na Internet.
Permitido o uso apenas para fins educacionais.
Qualquer dúvida entre em contato conosco pelo email dariognjr@bol.com.br.
http://www.aliteratura.kit.net

Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima sejam mantidas.


Noite na Taverna
Álvares de Azevedo


MACÁRIO

Onde me levas?

SATAN

A uma orgia. Vais ler uma página da vida, cheia de sangue e de vinho—que importa?

MACÁRIO

Eu vejo‑os. É uma sala fumacenta. A roda da mesa estão sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem‑se no chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas, umas lívidas, outras vermelhas Que noite!
NOITE NA TAVERNA

How now, Horatio? you tremble, and look pale. Is not this something more than fantasy? What think you on's?

Hamlet. Ato I

JOB STERN

UMA NOITE DO SÉCULO

.

Bebamos! nem um canto de saudade! Morrem na embriaguez da vida as cores! Que importam sonhos, ilusões desfeitas? Fenecem como as flores!

José Bonifácio

— Silêncio! moços!! acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia??

—Cala‑te, Johann! enquanto as mulheres dormem e Arnold—o loiro—cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que musica mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e a lua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada ao reflexo das tachas?

—És um louco, Bertram! não e a lua que lá vai macilenta: e o relâmpago que passe e ri de escárnio as agonies do povo que morre, aos soluços que seguem as mortalhas do cólera!

—O cólera! e que importa? Não há por ora vida bastante nas veias do homem? não borbulha a febre ainda as ondas do vinho? não reluz em todo o seu fogo a lâmpada da vida na lanterna do crânio?

—Vinho! vinho! Não vês que as taças estão vazias bebemos o vácuo, como um sonâmbulo?

—E o Fichtismo na embriguez! Espiritualista, bebe a imaterialidade da embriaguez!

—Oh! vazio meu copo esta vazio! Olá taverneira, não vês que as garrafas estão esgotadas? Não sabes, desgraçada, que os lábios da garrafa são como os da mulher: só valem beijos enquanto o fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa de lava?

—O vinho acabou‑se nos copos, Bertram, mas o fumo ondula ainda nos cachimbos! Após os vapores do vinho os vapores da fumaça! Senhores, em nome de sodas as nossas reminiscências, de todos os nossos sonhos que mentiram, de sodas as nossas esperanças que desbotaram, uma ultima saúde! A taverneira ai nos trouxe mais vinho: uma saúde! O fumo e a imagem do idealismo, e o tran­sunto de tudo quanto ha mais vaporoso naquele espiri­tualismo que nos fala da imortalidade da alma! e pois, ao fumo das Antilhas, a imortalidade da alma!

—Bravo! bravo!

Um urrah tríplice respondeu ao moco meio ébrio.

Um conviva se ergueu entre a vozeria: contrasta­vam‑lhe com as faces de moco as rugas da fronte e a rouxidão dos lábios convulsos. Por entre os cabelos pra­teava‑se‑lhe o reflexo das luzes do festim. Falou:

—Calai‑vos, malditos! a imortalidade da alma? po­bres doidos! e porque a alma e bela, porque não conce­beis que esse ideal posse tornar‑se em loco e podridão, como as faces belas da virgem morta, não podeis crer que ele morra? Doidos! nunca velada levastes porventura uma noite a cabeceira de um cadáver? E então não du­vidastes que ele não era morto, que aquele peito e aquela fronte iam palpitar de novo, aquelas pálpebras iam abrires, que era apenas o ópio do sono que emudecia aquele homem? Imortalidade da alma! e por que também não so­nhar a das flores, a das brisas, a dos perfumes? Oh! não mil vezes! a alma não e, como a lua, sempre moca, nua e bela em sue virgindade eterna! a vida não e mais que a reunião ao acaso das moléculas atraídas: o que era um corpo de mulher vai porventura transformar-se num cipreste ou numa nuvem de miasmas; o que era um corpo do verme vai alvejar‑se no cálice da flor ou na fronte da
criança mais loira e bela. Como Schiller o disse, o átomo da inteligência de Platão foi talvez pare o coração de um ser impuro. Pôr isso eu vo‑lo direi: se entendeis a imortalidade pela metempsicose, bem! talvez eu creia um pouco:—pelo Platonismo, não!

—Solfieri! es um insensato! o materialismo e árido como o deserto, e escuro como um túmulo! A nos fron­tes queimadas pelo normaço do sol da vida a nos sobre cuja cabeça a velhice regelou os cabelos, essas crianças frias! A nós os sonhos do espiritualismo!

—Archibald! deveras, que e um sonho tudo isso! No outro tempo o sonho da minha cabeceira era o es­pirito puro ajoelhado no seu manto argênteo, num ocea­no de aromas e luzes! Ilusões! a realidade e a febre do libertino, a taça na mão, a lascívia nos lábios e a mulher seminua, tremula e palpitante sobre os joelhos.

—Blasfêmia—e não crês em mais nada: teu ce­ticismo derribou sodas as estatuas do teu templo, mesmo a de Deus?

—Deus! crer em Deus! sim como o grito intimo o revela nas horas frias do medo—nas horas em que se tirita de susto e que a morte parece roçar úmida por nos! Na jangada do naufrago, no cadafalso, no deserto —sempre banhado do suor frio—do terror e que vem a crença em Deus! —Crer nele como a utopia do bem absoluto, o sol da luz e do amor, muito bem! Mas se en­tendeis por ele os ídolos que os homens ergueram banha­dos de sangue, e o fanatismo beija em sua inanimação de mármore de há cinco mil anos! não credo nele!

—E os livros santos?

—Miséria! quando me vierdes falar em poesia eu vos direi: ai ha folhas inspiradas pela natureza ardente daquela terra como nem Homero as sonhou—como a humanidade inteira ajoelhada sobre os túmulos do pas­sado nunca mais lembrara! Mas quando me falarem em verdades religiosas, em visões santas, nos desvarios da­quele povo estúpido—eu vos direi—miséria! miséria! três vezes miséria! Tudo aquilo e falso— mentiram como as miragens do deserto!

—Estas ébrio, Johann! O ateísmo e a insânia como o idealismo místico de Schelling, o panteísmo de Spinoza o judeu, e o crente de Malebranche nos seus sonhos da visão em Deus. A verdadeira filosofia e o epicurismo. Hume bem o disse: o fim do homem e o prazer. Dai vede que e o elemento sensível quem domina. E pois ergamo‑nos, nos que amanhecemos nas noites desbotadas de estudo insano, e vimos que a ciência e falsa e esquiva, que ela mente e embriaga como um beijo de mulher.

—Bem! muito bem! e um toast de respeito!

—Quero que todos se levantem, e com a cabeça descoberta digam‑no: Ao Deus Pan da natureza, aquele que a antiguidade chamou Baeo o filho das coxas de um deus e do amor de uma mulher, e que nos chamamos me­lhor pelo seu nome—o vinho.

—Ao vinho! ao vinho!

Os copos cairam vazios na mesa.

—Agora ouvi‑me, senhores! entre uma saúde e uma baforada de fumaça, quando as cabeças queimam e os cotovelos se estendem na toalha molhada de vinho, como os braços do carniceiro no cepo gotejaste, o que nos cabe e uma historia sanguinolenta, um daqueles contos fantás­ticos—como Hoffmann os delirava ao clarão dourado do Johannisberg!

—Uma historia medonha, não Archibald?—falou um moco pálido que a esse reclamo erguera a cabeça amarelenta. Pois bem, dir‑vos‑ei uma historia. Mas quanto a essa, podeis tremer a gosto, podeis suar a frio da fronte grossas bagas de terror. Não e um conto, e uma lembrança do passado.

—Solfieri! Solfieri! ai vens com teus sonhos!

—Conta!

Solfieri falou: os mais fizeram silêncio
II

SOLFIERI

Yet one kiss on your pale clay


And those lips once so warm beart! my bears! my bears!

BYRON—Cain

Sabeis‑lo. Roma e a cidade do fanatismo e da perdição: na
alcove do sacerdote dorme a gosto a amásia,
no leito da vendida se pendura o Crucifixo lívido. É um
requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio a
convulsão do amor, o beijo lascivo a embriaguez da crença!
Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela
no verão pôr aquele céu morno, o fresco das águas se
exalava como um suspiro do leito do Tibre. A noite ia
bela. Eu passeava a sós pela ponte de As luzes se apa­garam uma por uma nos palácios, as ruas se fazias ermas,
e a lua de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Uma
sombra de mulher apareceu numa janela solitária e es­
cura. Era uma forma branca.—A face daquela mulher
era como a de uma estátua pálida a lua. Pelas faces dela,
como gotas de uma taça caída,, rolavam fios de lágrimas.

Eu me encostei a aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela e daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento a noite nos cemitérios cantando a nênia das flores murchas da morte.

Depois o canto calou‑se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu a ninguém—saiu. Eu segui‑a.

A noite ia cada vez mais alta: a lua sumira‑se no céu, e a chuva caía as gotas pesadas: apenas eu sentia nas faces caírem‑me grossas lágrimas de água, como sobre um túmulo prantos de órfão..

Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas: enfim ela parou: estávamos num campo.

Aqui, ali, além eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou‑se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite.

Não sei se adormeci: sei apenas que quando amanheceu achei‑me a sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não fora uma ilusão—as urzes, as cicutas do campo santo estavam quebradas junto a uma cruz.

O frio da noite, aquele sono dormido a chuva, causaram‑me uma febre. No meu delírio passava e repassava aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços e todo aquele devaneio se perdia num canto suavíssimo...

Um ano depois voltei a Roma. Nos beijos das mulheres nada me saciava: no sono da saciedade me vinha aquela visão.
       
        Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no leito dela a condessa Barbara. Dei um último olhar áquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia volutuosa do amor. —Saí.. —Não sei se a noite era límpida ou negra—sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: nos lábios daquela criatura eu bebera ate a última gota o vinho do deleite.

Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri‑o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertados... Era uma defunta! ... e aqueles traços todos me lembraram uma idéia perdida. . —Era o anjo do cemitério? Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo.

Sabeis a historia de Maria Stuart degolada e o algoz, "do cadáver sem cabeça e o homem sem coração" como a conta Brantôme?Foi uma idéia singular a que eu tive. Tomei‑a no colo. Preguei‑lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim: rasguei‑lhe o sudário, despi‑lhe o véu e a capela como o noivo as despe a noiva. Era uma forma puríssima.. Meus sonhos nunca me tinham evocado uma estatua tão perfeita. Era mesmo uma estátua: tão branca era ela. A luz dos tocheiros dava‑lhe aquela palidez de âmbar que lustra os mármores antigos. O gozo foi fervoroso—cevei em perdição aquela vigília. A madrugada passava já froixa nas janelas. Àquele calor de meu peito, a febre de meus lábios, a convulsão de meu amor, a donzela pálida parecia reanimar‑se. Súbito abriu os olhos empanados. —Luz sombria alumiou‑os como a de uma estrela entre névoa—, apertou‑me em seus braços, um suspiro ondeou‑lhe nos beiços azulados. Não era já a  um desmaio. No aperto daquele abraço havia contudo alguma coisa de horrível. O leito de lájea onde eu passara uma hora de embriaguez me resfriava. Pude a custo soltar‑me daquele aperto do peito dela. Nesse instante ela acordou…

Nunca ouvistes falar da catalepsia? E um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado em que sentem‑se os membros tolhidos, e as faces banhadas de lágrimas alheias sem poder revelar a vida!

A moça revivia a pouco e pouco. Ao acordar desmaiara. Embucei‑me na capa e tomei‑a nos braços coberta com seu sudário como uma criança. Ao aproximar‑me da porta topei num corpo; abaixei‑me—olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja que aí dormira de ébrio, esquecido de fechar a porta .

Saí.—Ao passar a praça encontrei uma patrulha —Que levas aí?

A noite era muito alta—talvez me cressem um ladrão.

—E minha mulher que vai desmaiada

—Uma mulher! Mas essa roupa branca e longa? Serás acaso roubador de cadáveres?

Um guarda aproximou‑se. Tocou‑lhe a fronte—era fria.

—E uma defunta

Cheguei meus lábios aos dela. Senti um bafejo morno.—Era a vida ainda.

—Vede, disse eu.

O guarda chegou‑lhe os lábios: os beiços ásperos roçaram pelos da moça. Se eu sentisse o estalar de um beijo. . o punhal já estava nu em minhas mãos frias

—Boa noite, moço: podes seguir, disse ele.

Caminhei.—Estava cansado. Custava a carregar o meu fardo: e eu sentia que a moça ia despertar. Temeroso de que ouvissem‑na gritar e acudissem, corri com mais esforço. .

Quando eu passei a porta ela acordou. O primeiro som que lhe saiu da boca foi um grito de medo

Mal eu fechara a porta, bateram nela. Era um bando de libertinos meus companheiros que voltavam da orgia. Reclamaram que abrisse.

Fechei a moça no meu quarto—e abri.

Meia hora depois eu os deixava na sala bebendo ainda.

A turvação da embriaguez fez que não notassem minha. ausência.

Quando entrei no quarto da moça vi‑a erguida. Ria de um rir convulso como a insânia,, e frio como a folha de uma espada. Trespassava de dor o ouvi‑la.

Dois dias e duas noites levou ela de febre assim Não houve como sanar‑lhe aquele delírio, nem o rir do frenesi. Morreu depois de duas noites e dois dias de delírio.

A noite sai—fui ter com um estatuário que trabalhava perfeitamente em cera—e paguei‑lhe uma estátua dessa virgem.

Quando o escultor saiu, levantei os tijolos de mármore do meu quarto, e com as mãos cavei aí um túmulo.—Tomei‑a então pela última vez nos braços, apertei‑a a meu peito muda e fria, beijei‑a e cobri‑a adormecida do sono eterno com o lençol de seu leito.—Fechei‑a no seu túmulo e estendi meu leito sobre ele.

Um ano—noite a noite—dormi sobre as lajes que a cobriam Um dia o estatuário me trouxe a sua obra. —Paguei‑lha e paguei o segredo

Não te lembras, Bertram, de uma forma branca de mulher que entreviste pelo véu do meu cortinado? Não te lembras que eu te respondi que era uma virgem que dormia?

—E quem era essa mulher, Solfieri?

—Quem era? seu nome?

—Quem se importa com uma palavra quando sente que o vinho lhe queima assaz os lábios? quem pergunta o nome da prostituta com quem dormia e que sentiu morrer a seus beijos, quando nem ha dele mister por escrever‑lho na lousa?

Solfieri encheu uma taça—Bebeu‑a.—Ia erguerse da mesa quando um dos convivas tomou‑o pelo braço.

—Solfieri, não e um conto isso tudo?

—Pelo inferno que não! por meu pai que era conde e bandido, por minha mãe que era a bela Messalina das ruas—pela perdição que não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés na sua cova de terra —eu vô‑lo juro—guardei‑lhe como amuleto a capela de defunta.—Ei‑la!

Abriu a camisa, e viram‑lhe ao pescoço uma grinalda de flores mirradas.

—Vede‑la murcha e seca como o crânio dela!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Como viver bem, sem importar com quem.


O que todos têm em comum é a diferença, seja ela racial, econômica, social, religiosa ou sexual. Está na cara, nas crenças, nas particularidades e na maneira de agir.
O que há milhares de anos fez com que os melhores se destacassem, hoje, não distingue a superioridade de ninguém, não é mais fraco por ter uma determinada cor, um ideal, ou até mesmo ser apenas diferente. A desigualdade é linda, a diferença deve ser respeitada, pois é o que faz cada um ser singular, independente dos outros. Todos devem ser iguais no respeito, na compreensão, no amor, independente de quão “estranho” possa ser o outro.
A convivência com as características diversas é difícil, mas estritamente necessária, levando em conta a pluralidade e a diversidade cultural no mundo. As pessoas vêm sendo definidas pelo seu grupo social, buscam seus semelhantes, e às vezes menosprezam àqueles que “fogem” disso, e mesmo assim, convivem com eles nas escolas, nos condomínios, nos locais de trabalho. Quando surgem os dois lados da moeda: a tolerância e o preconceito.
Uma vez idênticos, não haveria nenhum tipo de ideal; sofreríamos todos com os mesmos problemas sem nenhum tipo de solução, afinal, teríamos os ideais muito semelhantes. É aquele velho ”esquema” - o que seria do verde, se todos gostassem do amarelo.  
Obviamente, nem toda desigualdade é bem vinda, um grande exemplo é a social, que não deveria existir, e que é a face da discriminação entre as populações, e seria facilmente exterminada se houvesse uma melhor sistema de distribuição de renda, aliada aos de saúde e educação, para “TODOS”.
Para compreender um povo ou um costume, é preciso entendê-lo; para isso é importante conhecê-lo. Para julgar se algo é certo ou errado, devem ser conhecidos todos os seus fatores. Para uma vida em sociedade, é necessário respeitar cada um, do seu próprio jeito. O valor da existência humana independe dos nossos credos ou raça. Além de garantir o convívio entre as pessoas, tolerar as desavenças nos coloca no caminho da prosperidade, fortalecendo a esperança de viver em um mundo melhor.

Proposta de redação do ENEM de 2007. Vídeo trabalhado em 2010.








Como viver bem, sem importar com quem.


O que todos têm em comum é a diferença, seja ela racial, econômica, social, religiosa ou sexual. Está na cara, nas crenças, nas particularidades e na maneira de agir.
O que há milhares de anos fez com que os melhores se destacassem, hoje, não distingue a superioridade de ninguém, não é mais fraco por ter uma determinada cor, um ideal, ou até mesmo ser apenas diferente. A desigualdade é linda, a diferença deve ser respeitada, pois é o que faz cada um ser singular, independente dos outros. Todos devem ser iguais no respeito, na compreensão, no amor, independente de quão “estranho” possa ser o outro.
A convivência com as características diversas é difícil, mas estritamente necessária, levando em conta a pluralidade e a diversidade cultural no mundo. As pessoas vêm sendo definidas pelo seu grupo social, buscam seus semelhantes, e às vezes menosprezam àqueles que “fogem” disso, e mesmo assim, convivem com eles nas escolas, nos condomínios, nos locais de trabalho. Quando surgem os dois lados da moeda: a tolerância e o preconceito.
Uma vez idênticos, não haveria nenhum tipo de ideal; sofreríamos todos com os mesmos problemas sem nenhum tipo de solução, afinal, teríamos os ideais muito semelhantes. É aquele velho ”esquema” - o que seria do verde, se todos gostassem do amarelo.  
Obviamente, nem toda desigualdade é bem vinda, um grande exemplo é a social, que não deveria existir, e que é a face da discriminação entre as populações, e seria facilmente exterminada se houvesse uma melhor sistema de distribuição de renda, aliada aos de saúde e educação, para “TODOS”.
Para compreender um povo ou um costume, é preciso entendê-lo; para isso é importante conhecê-lo. Para julgar se algo é certo ou errado, devem ser conhecidos todos os seus fatores. Para uma vida em sociedade, é necessário respeitar cada um, do seu próprio jeito. O valor da existência humana independe dos nossos credos ou raça. Além de garantir o convívio entre as pessoas, tolerar as desavenças nos coloca no caminho da prosperidade, fortalecendo a esperança de viver em um mundo melhor.

Proposta de redação do ENEM de 2007. Vídeo trabalhado em 2010.








domingo, 6 de março de 2011

Usurpadores do poder público.

O Brasil constitui-se em um Estado Democrático de Direito, regido por uma Carta Magna, governado e administrado por extenso grupo de pessoas escolhidas pelo povo através do voto – direito concedido a todo cidadão com idade a partir de dezesseis anos –, o qual deve ser utilizado de maneira séria e responsável, de forma que o país tenha dirigentes capacitados. Não é, no entanto, o que se manifesta, conforme corrobora seu deturpado cenário político.

No Governo Federal hodierno tem havido um resgate ao poder a homens como João Paulo Cunha e José Dirceu, políticos que protagonizaram o mais vergonhoso escândalo da história da política brasileira, o do mensalão. O mais curioso é que não se percebe a mínima tentativa de homiziar tudo isso; os políticos perderam o temor ao povo, a opinião pública é agora sem importância, já que inexiste atuação por parte da população, pouco exigente e preguiçosa de agir e pensar.

Se a corrupção reina é por absoluta e exclusiva culpa da população, por motivos múltiplos, destacando-se à irresponsabilidade com a qual se vota. O voto é um instrumento dos cidadãos a ser aplicado inteligentemente na escolha de agentes que terão em mãos uma parcela do poder público e que deverão trabalhar pela evolução do país e da qualidade de vida geral, e que por isso mesmo devem ser pessoas de hombridade e lisura de caráter; não se trata de um objeto de câmbio para ganho próprio.

Não são projetos sociais de quaisquer espécies que mudarão essa indecorosa realidade. É preciso que cada pessoa repense seus conceitos e modifique sua atuação social. Acompanhar e monitorar as ações políticas para garantir que seja cumprido tudo aquilo que foi proposto em campanha e exigir o melhor. Em período eleitoral, estudar as propostas de cada candidato, assim como seu histórico, para melhor aplicar o voto. Mais do que isso, é necessário mostrar atenção e impor respeito – ir às ruas se necessário –, atentando ao fato de que todas as iniciativas serão inócuas se não executadas sincronicamente. Reverter o quadro do país se traduz em pôr os políticos em seu devido lugar, como os funcionários que são, os administradores da nação, a qual encontra seu legítimo detentor no povo.

Usurpadores do poder público.

O Brasil constitui-se em um Estado Democrático de Direito, regido por uma Carta Magna, governado e administrado por extenso grupo de pessoas escolhidas pelo povo através do voto – direito concedido a todo cidadão com idade a partir de dezesseis anos –, o qual deve ser utilizado de maneira séria e responsável, de forma que o país tenha dirigentes capacitados. Não é, no entanto, o que se manifesta, conforme corrobora seu deturpado cenário político.

No Governo Federal hodierno tem havido um resgate ao poder a homens como João Paulo Cunha e José Dirceu, políticos que protagonizaram o mais vergonhoso escândalo da história da política brasileira, o do mensalão. O mais curioso é que não se percebe a mínima tentativa de homiziar tudo isso; os políticos perderam o temor ao povo, a opinião pública é agora sem importância, já que inexiste atuação por parte da população, pouco exigente e preguiçosa de agir e pensar.

Se a corrupção reina é por absoluta e exclusiva culpa da população, por motivos múltiplos, destacando-se à irresponsabilidade com a qual se vota. O voto é um instrumento dos cidadãos a ser aplicado inteligentemente na escolha de agentes que terão em mãos uma parcela do poder público e que deverão trabalhar pela evolução do país e da qualidade de vida geral, e que por isso mesmo devem ser pessoas de hombridade e lisura de caráter; não se trata de um objeto de câmbio para ganho próprio.

Não são projetos sociais de quaisquer espécies que mudarão essa indecorosa realidade. É preciso que cada pessoa repense seus conceitos e modifique sua atuação social. Acompanhar e monitorar as ações políticas para garantir que seja cumprido tudo aquilo que foi proposto em campanha e exigir o melhor. Em período eleitoral, estudar as propostas de cada candidato, assim como seu histórico, para melhor aplicar o voto. Mais do que isso, é necessário mostrar atenção e impor respeito – ir às ruas se necessário –, atentando ao fato de que todas as iniciativas serão inócuas se não executadas sincronicamente. Reverter o quadro do país se traduz em pôr os políticos em seu devido lugar, como os funcionários que são, os administradores da nação, a qual encontra seu legítimo detentor no povo.

sexta-feira, 4 de março de 2011

TE AMAMOS, CAMILA PAIMEL



Hoje  é um dia marcante em minha vida.
Hoje foi um dia diferente no Colégio CBA !
Hoje foi o primeiro dia em que a Camila Paimel assistiu à aula somente através de nossos corações.


Camila, como sentimos sua falta!

Algumas pessoas passam pela vida da gente e deixam sempre suas marcas, algumas levam um pedacinho de nós com elas, você levou uma parte enorme de nós.
Queria dizer que, na carreira do magistério, passamos por diversas situações que nos fazem repensar a escolha profissional que fizemos, sempre enfrentamos diversas dificuldades, somos tantas e tantas vezes desvalorizados, humilhados e nos sentimos como se nosso trabalho fosse em vão....tantas e tantas vezes parece que damos "murro em ponta de faca" , como diriam; mas saiba que passar e sentir o que sentimos dando aula pra você , para alunos como você, é que nos faz ver que tudo valeu a pena e TUDO VALE A PENA!!!

Obrigada, CAMILA PAIMEL, você sempre será minha aluna querida, a pessoa em que eu confio ( você sabe disso) , a minha amiga, a pessoa que estarei sempre rezando e torcendo pela sua felicidade não só profissional; mas , principalmente, pessoal.
E tenha sempre certeza de que estou aqui para o que precisar -SEMPRE!!!!
Porque UMA VEZ PROFESSORA, SEMPRE PROFESSORA!!!
Obrigada pelo presente de passar este tempo conosco, NÓS TE AMAMOS!
EU ME SINTO HONRADA DE PODER DIZER QUE ALGUM DIA FUI SUA PROFESSORA!!!


Professora Della Coelho

//Ian Chaves//
Que as verdadeiras amizades continuem eternas...
Que as alegrias estejam sempre presentes...
Que os corações estejam sempre abertos para...
Novas amizades... Minha amiga,
desejo tudo de bom para ti,
e desejo muito SUCESSO !! (kkk)
 
 //Rhenato Vargas//
A Amizade não requer gratidão,
presentes, cobranças, etc.
A Amizade requer apenas que nos
lembremos sempre de dizer um
“oi, Como você está?!!!
Amizade como a sua
é privilégio de poucos.



Venha nos ver logo, Camila!!!!!!!!!!!! E pegar um livro que está separado para você!
Beijosssssssssssssssssss

TE AMAMOS, CAMILA PAIMEL



Hoje  é um dia marcante em minha vida.
Hoje foi um dia diferente no Colégio CBA !
Hoje foi o primeiro dia em que a Camila Paimel assistiu à aula somente através de nossos corações.


Camila, como sentimos sua falta!

Algumas pessoas passam pela vida da gente e deixam sempre suas marcas, algumas levam um pedacinho de nós com elas, você levou uma parte enorme de nós.
Queria dizer que, na carreira do magistério, passamos por diversas situações que nos fazem repensar a escolha profissional que fizemos, sempre enfrentamos diversas dificuldades, somos tantas e tantas vezes desvalorizados, humilhados e nos sentimos como se nosso trabalho fosse em vão....tantas e tantas vezes parece que damos "murro em ponta de faca" , como diriam; mas saiba que passar e sentir o que sentimos dando aula pra você , para alunos como você, é que nos faz ver que tudo valeu a pena e TUDO VALE A PENA!!!

Obrigada, CAMILA PAIMEL, você sempre será minha aluna querida, a pessoa em que eu confio ( você sabe disso) , a minha amiga, a pessoa que estarei sempre rezando e torcendo pela sua felicidade não só profissional; mas , principalmente, pessoal.
E tenha sempre certeza de que estou aqui para o que precisar -SEMPRE!!!!
Porque UMA VEZ PROFESSORA, SEMPRE PROFESSORA!!!
Obrigada pelo presente de passar este tempo conosco, NÓS TE AMAMOS!
EU ME SINTO HONRADA DE PODER DIZER QUE ALGUM DIA FUI SUA PROFESSORA!!!


Professora Della Coelho

//Ian Chaves//
Que as verdadeiras amizades continuem eternas...
Que as alegrias estejam sempre presentes...
Que os corações estejam sempre abertos para...
Novas amizades... Minha amiga,
desejo tudo de bom para ti,
e desejo muito SUCESSO !! (kkk)
 
 //Rhenato Vargas//
A Amizade não requer gratidão,
presentes, cobranças, etc.
A Amizade requer apenas que nos
lembremos sempre de dizer um
“oi, Como você está?!!!
Amizade como a sua
é privilégio de poucos.



Venha nos ver logo, Camila!!!!!!!!!!!! E pegar um livro que está separado para você!
Beijosssssssssssssssssss